Friday, June 17, 2005

Geração de 70

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“Interrompo?”
Morena, metro e setenta, sorria e deixava transparacer confiança. O Grupo reconhecia-a de estar com frequência a matar traçados e cervejas nas mesas d’ A Galeria. Nunca nenhum fizera o esforço para se relacionar mas sem dúvida que este seria o momento certo para tal.

Sentou-se e declarou “Não pude deixar de ouvir a vossa conversa e gostava só de dizer umas coisinhas. Tu – virou-se para Narciso – deves pensar que és o senhor da verdade. A presunção, a arrogância transparecem na tua voz. Consegues construir o teu discurso de uma forma magistral, só é pena que não consigas ser mais humilde, porque a certa altura tornas-te pedante e com uma certa tendência para humilhar quem te rodeia. A partir daí tudo o que sabes, o conteúdo, perde-se porque é cilindrado pelo sentimento negativo que imprimes com a atitude.”

Mercúrio riu à gargalhada ao olhar para a cara de Narciso que se tornara branca mas calou-se mal a morena abriu a boca pela segunda vez.
“Não te rias que ainda te engasgas. Acho que tens algum problema com o conhecimento. És muito vago no que dizes, que conheces isto e quilo e sabes até alguma coisa, mas quer-me parecer que não sabes grande coisa, o que tens é um saber residual. Ia jurar que lês os apontamentos Europa América em relação à literatura, sinopses dos filmes n’ O Público, engoles as descrições de obras de arte em livros que tem como título “Como reconhecer…”.
És vago, e quando já se esgotaram os apontamentos de uma matéria, levas a conversa para outro tema residual como tu.”

Embrulha, pensou Narciso sem esboçar um sorriso.
Tântalo esperou pela bujarda que não tardou.


Antero de Quental

Comments:
o outro blog morreu?
 
Amie, é claro que não. para já esté em pausa
 
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