Wednesday, September 15, 2004

Génesis III

O Gerador tinha sido um militar consciencioso, quando estivera a cumprir o serviço militar obrigatório. Não é que esta república das bananas estivesse constantemente a ser ameaçada por um inimigo invisível extra-fronteiras, mas era necessário cumprir marcialmente este dever para com a nação. Devido a uma providencial manopla do Destino, estivera sempre isento de comissões contra inimigos reais, o que não invalidava de todo, todos os ensinamentos teórico-práticos que lhe foram incutidos durante os três longos anos de fogo real e comezainas de carne de burro regada com whisky de contrabando.É claro que a aprendizagem, de tão zeloso militar, invariavelmente resultava numa faca de dois gumes quando transmitida à prole. Se por um lado ia ensinando às crias como agir furtivamente quando se roubava o anual pinheiro de Natal, por outro ensinava-lhes máximas como, não delatarás o teu companheiro ou, quando um faz merda comem todos. Em casa dos petizes a segunda era sempre consequência da primeira. Quando algo acontecia, o: nunca é ninguém, brotava em forma de urro louco da garganta do progenitor, e logo se providenciava um castigo para as pestes militarizadas de espírito, que não raras vezes ainda gozavam dizendo, a culpa é tua. As crianças coziam-se em copas e não deixavam escapar um indício que pudesse incriminar um dos camaradas, porque hoje és tu amanhã sou eu (legenda sob a foto dos miúdos com cara de quem acabou de foder qualquer coisa). Este tipo de situação exasperava o pai mas secretamente enchia-o de orgulho, os ensinamentos estavam a entrar.

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