Tuesday, September 28, 2004

Lector in Sudio

Desde cedo que Orniciteplático se mostrou inteligente de uma forma muito camuflada, tanto mais que n início os professores achavam que era meio estúpido. Tudo o que lhe era mandado fazer em casa ficava confortavelmente instalado na prateleira, aparecendo incumprido na aula seguinte. Tabuadas, fichas, contas cópias, enfim tudo a que era obrigado ficava por fazer. As reguadas que lhe eram distribuídas em igualdade pelas duas mãos, para não haver invejas, funcionavam de forma contrária à esperada. Reforçavam-lhe o carácter teimoso. Quanto mais lhe mandavam fazer, menos fazia. Hoje ainda tem uma dívida acumulada à escola de 12353 cópias, 7352 tabuadas, 12435 fichas e 98098 contas.
Em compensação tudo o que fosse feito dentro das paredes da sala de aula, era cumprido à risca e com a melhor das perfeições, não obstante passar as aulas concentrado nos painéis de azulejo que a decoravam. Sabia de trás para a frente a quantidade de armas, qual as suas formas, quem lhes pegava e como e a história que estava por trás daquela cena guerreira.
A Batalha de Aljubarrota, representada por um azulejeiro do Estado Novo, inspirava-o para fora da monotonia das aulas e punha-o a imaginar o que as personagens estavam a dizer, muito embora as bocas dos senhores não exprimissem o mínimo gesto que fosse. Via histórias e, em muitas, o cavalo, que estava em primeiro plano na imagem, confidenciava-lhe na hora das reguadas, daqui a uns anos vais ser como eles, grande, enorme e vais poder ter uma espada como a do Condestabre, novinha em folha. Se fosse hoje dir-lhe-ia, está descansado que nós vamos aí e espetámos coices e uma destas espadas, a maior de preferência, no cú do cão raivoso que é o teu professor! Atravessada é claro.

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