Tuesday, November 16, 2004

Primo Amore III


Todo o tempo que usa para a criação está vedado. A loucura toma conta dele, com os mosquitos a fazer sinfonias constantes à volta da cabeça.

Dá conta de si febrilmente agarrado ao portátil, dedilhando uma peça para piano, dramática, transferida com celeridade do seu cérebro para o écran. Pensa naquilo que lhe tira o sono e decide, sem mais nem quê ligar àquele número que o castiga há anos sem conta. Bebe meio copo de bagaço enquanto ouve o tuuu ritmado da ligação, num tempo curto mas muito longo para a sua alma em conturbação constante.

Do outro lado uma voz feminina, jovial, responde, acedendo aos desejos de Orniciteplático. Quero falar contigo – do outro lado reconhecem a voz. É claro que quero falar contigo, já estou à espera há tempo demais, porque sabia que dependíamos da tua vontade, o.k. então às três da tarde, na minha casa, rua da Electricidade 125, é uma vivenda, até logo, um beijo.
A conversa parece-lhe unilateral, não tem consciência da sua voz na comunicação, um monólogo.
Alea jacta est! Lembra-se de Júlio, com as punhaladas nas costas, mas o único Brutus, covarde e não suspeito mas culpado será ele, se virar as costas ao que está prestes a concretizar.

Comments:
olha, quem é a gaja??? cabelo preto e livro de português...
 
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