Wednesday, December 22, 2004

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No cruzamento da rua Cardus com a Uintemanus, morava uma senhora mais velha que o século a quem chamavam Emissora Nacional. Ninguém se lembrava quando lhe tinham posto o nome, mas toda a gente sabia porquê. Passava a vida à janela a inventariar os comportamentos e as actividades das pessoas que circulavam, anotando as suas observações nos eu caderno de mercearia que catalogava ordenadamente. Cada caderno albergava a informação de vários dias, e num outro caderno do mesmo tipo mas de maiores dimensões registava os dias a que cada caderno se referia. Era uma arquivista fora de série, e toda a gente se interrogava quantos cadernos teria ela já escrito.

Transformava facilmente a realidade em boato e o boato em realidade. Era tão boa nisto que ninguém a queria ter como inimiga e todos faziam questão de a cumprimentar, não se fosse ela lembrara de inventar qualquer coisa.

A sua rede de informações, composta por mais três senhoras que moravam nas outras três esquinas das praças da vila, reunia-se com ela todos os dias às seis da tarde para trocar informações. É claro que durante a meia hora que durava a reunião havia um vazio de informação nos cadernos da Emissora, mas era por uma boa causa.

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