Monday, December 27, 2004

O estranho caso das Agulhas de Pinheiro e como os Desvirginadores foram ludibriados II

Eis então a razão do pânico do Gerador. Ele estava bem a marimbar-se para as tretas da Tradição. Passara toda a sua vida a ler os jornais do tutor, que como correspondente d’A Gazeta de Nenhures, era o único da vila a ter direito a informação actualizada.

O Tutor dava uma educação enriquecida com vitaminas literárias ao gerador. Pusera-o desde a mais tenra idade a descodificar toda a informação que lhe era fornecida. Fazia-o ler com olhos de ver. “Não comas tudo aquilo que te dão, muita coisa, até nos livros pode estar envenenada. Aprende que eu não vou durar para sempre, é preciso agregar a informação e peneirá-la como se peneira a farinha. Escolhe, esmiúça tudo e depois pensa sempre por ti.”

É claro que Gerador via os seus colegas a seguir o caminho do não pensamento. A Tradição era poderosa e conseguia fechar os olhos a toda a gente, mas também do que é que se estava à espera?

Um dia perguntou ao Tutor, “O que é a Tradição para ter um controlo tão grande sobre toda a gente?” ao que lhe respondeu “Meu filho, um dia vais lá chegar pela tua própria cabeça, mas para já fica com esta achega, a Tradição é como uma senhora que está constantemente a baloiçar uma cadeira de balancé, como a minha. Vai ditando as suas ideias, e com uma venda vai tapando os olhos de toda a gente. Esta venda tem um pequeno furo que vai deixando passar uma só perspectiva da realidade. No entanto há pessoas que estão muito longe dela para ser vendadas.

Têm uma visão diferente e lutam com paciência contra a sua influência, educando alguns discípulos para continuar a obra. Todos juntos somos como bichos da madeira, porque a intenção não é matar a senhora mas destruir a cadeira. Destruída esta, a senhora vai cair e bater com a cabeça e não mais se vai levantar. Se pelo contrário destruíres a senhora, vem outra e senta-se no seu lugar. Mina a base e terás sucesso.”

É claro que com uma metáfora deste calibre, o Gerador ficou a perceber o mesmo, mas a semente já lá estava.

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