Saturday, December 11, 2004
Scriptorium VI
E foram pacientes até que não se contiveram mais. Passavam a noite a fazer amor e a manhã a discutir o que iam lendo. Ele alimentava-a com o que ia escrevendo e ela alimentava-lhe a inspiração com o que sentia. Ela chamava-lhe Garfield, porque só comia, dormia e escrevia. Raras eram a vezes que saía de casa. Os textos para a revista da faculdade mandava-os por Email, o tabaco chegava-lhe a casa pelas mãos dela e o amor compelia-o a fazer exercício, o melhor dos exercícios.
Passavam a vida a rir e eram felizes com a vida que tinham.
Ela gabava-lhe a inteligência e ele gabava-lhe o corpo. Valera a pena a espera, o troféu por que tanto esperara estava ali nos seus braços, para sempre, pelo menos julgava ele. Mas o ser humano é um ser muito estranho e toda aquela felicidade começou a fazer-lhe confusão. Voltou aos seus antigos contactos e começou a sair à noite. Na altura o Grupo frequentava um dos mais conhecidos tascos da cidade.
Recortes esparsos, descritivos da realidade ali vivida por uns e outros boémios da cidade, estavam afixados com cola branca nas paredes.
O dono, mais uma personagem característica daquela zona ribeirinha, com o seu penteado estilo ponte, - a careca era coberta pelos fios de cabelo resistentes do lado esquerdo e faziam a ponte para o lado direito da cabeça, cobrindo de uma forma cómica a calvície que não alastraria mais – recebia com simpatia os boémios universitários. Vendia vinho a copo, atraindo assim todos os apreciadores de vinho a martelo, jovens. Conseguira manter uma resistência tácita aos velhos bêbados, tarefa hercúlea mas conseguida, e a sua clientela cingia-se aos jovens universitários, bem-educados, pensantes e falantes.
Do que ele gostava era de ter os seus meninos a dar brilho à casa. Vendia também traçadinhos (anis com bagaço), ginginhas (licor de ginja) e Eduardinhos, segredo da casa. Bebia-se com gosto e pelo barato.
A sua esposa, sentada sempre no seu cadeirão de veludo, era conhecida como a Madrinha, todos os que lá entravam tinham que a cumprimentar com dois beijos e pedir-lhe a bênção. Quando soube do epíteto que os boémios lhe haviam dado “os marotos dos rapazes” entrou no jogo e começou a dar-lhes o folar todas as Páscoas, um traçadinho por cabeça. É claro que interpretou mal a analogia que se fazia com Don Corleone de Scorcese, mas era a sua simplicidade a falar.
Orniciteplático, depois de inserido naquele microcosmos, pediu um dia aos senhores que lhe deixassem escrever, numa parede vazia, um conto sobre aquele tasco. Com o apoio do Grupo lá os convenceram e lá foi escrita, a marcador a álcool, uma história sobre que lá passava. Tornou-se tradição e uns meses depois o negócio aumentou. Pintores escritores e fotógrafos deixaram lá a sua marca e o tasco transformou-se num espaço de exposição e mudou o nome para A Galeria.
Passavam a vida a rir e eram felizes com a vida que tinham.
Ela gabava-lhe a inteligência e ele gabava-lhe o corpo. Valera a pena a espera, o troféu por que tanto esperara estava ali nos seus braços, para sempre, pelo menos julgava ele. Mas o ser humano é um ser muito estranho e toda aquela felicidade começou a fazer-lhe confusão. Voltou aos seus antigos contactos e começou a sair à noite. Na altura o Grupo frequentava um dos mais conhecidos tascos da cidade.
Recortes esparsos, descritivos da realidade ali vivida por uns e outros boémios da cidade, estavam afixados com cola branca nas paredes.
O dono, mais uma personagem característica daquela zona ribeirinha, com o seu penteado estilo ponte, - a careca era coberta pelos fios de cabelo resistentes do lado esquerdo e faziam a ponte para o lado direito da cabeça, cobrindo de uma forma cómica a calvície que não alastraria mais – recebia com simpatia os boémios universitários. Vendia vinho a copo, atraindo assim todos os apreciadores de vinho a martelo, jovens. Conseguira manter uma resistência tácita aos velhos bêbados, tarefa hercúlea mas conseguida, e a sua clientela cingia-se aos jovens universitários, bem-educados, pensantes e falantes.
Do que ele gostava era de ter os seus meninos a dar brilho à casa. Vendia também traçadinhos (anis com bagaço), ginginhas (licor de ginja) e Eduardinhos, segredo da casa. Bebia-se com gosto e pelo barato.
A sua esposa, sentada sempre no seu cadeirão de veludo, era conhecida como a Madrinha, todos os que lá entravam tinham que a cumprimentar com dois beijos e pedir-lhe a bênção. Quando soube do epíteto que os boémios lhe haviam dado “os marotos dos rapazes” entrou no jogo e começou a dar-lhes o folar todas as Páscoas, um traçadinho por cabeça. É claro que interpretou mal a analogia que se fazia com Don Corleone de Scorcese, mas era a sua simplicidade a falar.
Orniciteplático, depois de inserido naquele microcosmos, pediu um dia aos senhores que lhe deixassem escrever, numa parede vazia, um conto sobre aquele tasco. Com o apoio do Grupo lá os convenceram e lá foi escrita, a marcador a álcool, uma história sobre que lá passava. Tornou-se tradição e uns meses depois o negócio aumentou. Pintores escritores e fotógrafos deixaram lá a sua marca e o tasco transformou-se num espaço de exposição e mudou o nome para A Galeria.
Comments:
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este comentário serve apenas para manifestar o meu protesto face ao "gigante moreno" (gigante moreno faz lembrar o Alexandre Frota, amori), pela passagem em branco do 27º aniversário da sua consciência...e mais não direi!
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