Wednesday, December 22, 2004

Terceleiros

Comentário de Trânsito era um rapaz que nascera quando não devia ter nascido. Não que fosse mal feito ou coisa que o valha, mas pura e simplesmente a sua vocação não tinha muito por onde se expandir.

Quando cresceu e percebeu a sua vocação, ficou muito desiludido porque tinha a certeza que ali faltava qualquer coisa. Estava à frente de todas as mentalidades e as pessoas de Terceleiros quando ouviam as suas parangonas acusavam-no de futurista, progressista e louco. Caía um bocado mal na mentalidade tradicionalista da população terceleirense, que alguém sonhasse sequer em ver centenas de carros movidos a um combustível incerto, a cruzar as pacatas ruas da vila a alta velocidade, a matar pessoas e vacas e cães e gatos e Tudo!

Comentário de Trânsito pouco se importava com o que os outros pensavam. Ficava horas sentado à porta do café a ver o trânsito de pessoas e animais, lixo empurrado pelo vento, carros de vacas, de burros e de cavalos. Tudo fazia sentido para ele, era um movimento perpétuo que era natural e nunca deixaria de fazer sentido para ele, muito embora para os outros não passasse de loucura.

Num qualquer dia de Julho a magia aconteceu e a monotonia desapareceu. Um grande monstro mecânico entrou em Terceleiros quase matando a Emissora Ncional de susto e Comentário de Trânsito de prazer. Quatro rodas tipo comboio, mas com borracha a proteger, para não haver necessidade de carris, um corpo metálico luzidio e uma chaminé que deitava grandes nuvens de fumo preto.Funcionava a carvão e chamava-se autocarro.

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