Tuesday, December 21, 2004

Vitruvio

Terceleiros era uma pequena vila que tinha muito orgulho nas suas cores políticas, ou seja dos dois partidos. Situava-se num pequeno vale, todo pintado de lilás cor de urze e verde cor de pinheiro nórdico. Era cortada a meio por uma linha de água a que muito a custo se chamava rio, mas os terceleirenses, por orgulho incontido, e como tinham que ter tudo o que os vizinhos não tinham, chamavam-lhe rio e assim seria e ainda é, o Rio Terceleiros.

A vila tinha cerca de 1500 habitantes e quatro ruas que faziam um desenho em forma de #. A malha viária, segundo o historiador local, remontava à época romana. Segundo a sua teoria uma legião romana ali acantonada, resolvera fazer uma intrépida experiência, e acrescentou ao cânone Cardus/Decumanus (uma rua funcionava como espinha dorsal e era cortada perpendicularmente por outra, com orientações Norte/Sul e Oeste/Este) uma rua paralela a cada uma delas. A paralela ao Cardus chamava-se Bicardus e a correspondente ao Decumanus, Uintemanus. Que melhor nome para baptizar esta teoria urbanística senão planta cardinal? Existiam plantas ortogonais, radioconcêntricas e agora também cardinais, devido ao desenho.

Foi uma pena que a sua tese de Doutoramento tenha sido chumbada, porque poderia ser usado este modelo em muitos e variados aglomerados populacionais, mas já havia um nome para este tipo de planta, regular vá-se lá saber por quê.

Cada uma das ruas tinha exactamente 628 metros de comprimento, numa clara alusão ao dobro do valor de П. O loteamento fora feito na época romana e todas as casas se encontravam construídas sobre as casas originais do século II. Existiam quatrocentos fogos habitacionais e alguns edifícios de serviços localizados estrategicamente nas quatro praças principais.
Todos os habitantes da vila eram vizinhos e toda a gente conhecia toda a gente. Era inevitável que as pessoas soubessem da vida uma das outras.

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