Thursday, February 03, 2005
Fungicida
Fungicida vivia em frente ao Tasco. Tinha um horror absoluto a insectos e como no melhor pano cai a nódoa, foi agraciado com uma praga bíblica de pulgas. Todos os dias, sem excepção, tentava ver-se livre delas mas em vão.
Saía de casa às nove em ponto, ia até ao meio da rua e sacudia toda a sua roupa. Primeiro sacudia o lençol da cama, que de branco se transformava lentamente em castanho avermelhado, das cagadelas das pulgas, depois voltava a entrar em casa e vinha enrolado no lençol para poder sacudir as roupas que trazia no corpo. Nunca fazia o contrário, e achava que o lençol enrolado tipo toga romana lhe dava uma augusta presença.
Um dia aborreceu-se e encomendou ao Pedreiro um esteio que colocou no eixo da via. A sua roupa já estava impregnada daquele pó fino que pavimentava a rua e o chateava mortalmente. Assim passou a sacudir as pulgas da roupa naquele providencial monólito, tentando dia após dia livrar-se de tão abjectas criaturas.
Este local, desde que Fungicida começara o estranho ritual, tornara-se “locus non gratus” para todas as gentes de Terceleiros, inclusive os cães que não punham lá uma pata, com medo de ser contaminados com aquela infecção difícil de curar.