Thursday, February 03, 2005

Prelúdio a "O estranho caso das agulhas de pinheiro..."

O Gerador tinha então sete anos e o seu irmão nove. A mãe com parcos recursos, o Aferidor é que garantia a subsistência da família, entregou os dois filhos a dois parentes ricos para os criar. Assim da rua Decumanus Gerador passou para uns escassos metros perto, para a rua Cardus.

A mãe morreu dois meses depois. Desde a morte do marido que se sentava em frente a casa, num tronco de madeira, por osmose contraiu as qualidades do tronco. Lentamente, a sua pele secou, tomou a textura do carvalho, e com falta de emoções um dia não acordou.

Estava tão ligada ao tronco que tiveram que mandar fazer um caixão em L para que pudesse ser enterrada sem que lhe partissem as pernas. O tronco lá ficou, no mesmo sítio, não sem antes alguém se ter lembrado de o enterrarem com a morta.

Gerador, magoado com aquele abandono resolveu, nesse dia que não ia morrer, e durante muitos anos manteve a promessa.

Quando pela primeira vez teve consciência do que era a morte, ficou chocado, e a convicção de que não queria morrer ficou-lhe firme no coração. Esse momento em que notou a impiedosa ceifeira a arrastar a alma de outra pessoa, foi a epifania por que há muito esperava, resolveu constituir família, com quem ou quando não sabia, mas isso o tempo diria.

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